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sábado, 15 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo

Devaneios básicos de qualquer ser humano que vê o Fim do Mundo pertinho de chegar...

  Sabem... Não sou muito de ter superstições. Há algumas que quero acreditar, como por exemplo a da mão coçando dar dinheiro, a da orelha quente ser sinal de que alguém está falando de você. Mas querer acreditar não é exatamente acreditar. A sabedoria popular diz que uma coisa é uma coisa, então somos inclinados a acreditar que aquela coisa realmente é aquela coisa (e sim, essa frase foi mais para encher linguiça e falar que o texto era grande). Ontem mesmo eu estava aqui quieto na minha casa, e quando percebi que ela estava silenciosa demais, coloquei uma música ambiente, só para não começar a ficar com medo. Fato é que desde essa hora eu tenho estado bem mais supersticioso e sensitivo. Pode ser só coisa da minha imaginação mas vejo vultos passando e quase escuto meu cachorro me pedindo para ir passear com ele. 
  Então me lembrei... Aquela maldita teoria maia sobre o fim do mundo. Aquela que nunca acreditei. Então apareceu uma viagem programada para o dia 21. Então, quase me borrando de medo,  decidi que não viajaria nesse dia. Não é que eu acredite que o mundo vai acabar, mas vai que acaba e eu ainda estou na estrada! 
  Quer saber, que se dane. Não vim aqui para falar disso.  Vim para falar exatamente o contrário: o mundo não vai acabar. É muito mais provável ele continuar a mesma merda que está. Muitos dizem que é a teoria para a renovação dos tempos, dizem que é o início de um novo ciclo. 
   Mas isso é como as promessas de fim de ano que fazemos desde sempre: "Nesse ano, vou arranjar um emprego." "Nesse ano, vou conseguir juntar dinheiro." "Nesse ano vou deixar de ser essa pessoa odiosa, mesquinha e egoísta que fui no ano passado." "Nesse ano vou parar de roubar doce das criancinhas, por que isso é feio." E passamos a virada do ano pulando sete ondinhas, com nossas roupas de baixo amarelas para atrair dinheiro,  brancas para atrair paz, vermelhas para atrair safadeza.
  Se durante o ano as pessoas não tentarem cumprir as promessas, vão chegar no final dele com as mesmas promessas,  as mesmas roupas de baixo encardidas. 
  O chamado "novo ciclo" só vai se iniciar de fato se todos fizerem sua parte. O leitor que já acompanha OTF deve estar se perguntando por que insistir tanto nessa coisa de  cada um ter que fazer sua parte. Isso pode ser meio clichê, mas é verdade: se cada um tentar fazer sua parte para um mundo melhor, o mundo há de melhorar.

  Nunca sei como finalizar os meus textos, e sempre que releio parece meio súbito. Mas, de qualquer forma, Feliz Natal, Feliz Ano Novo e Feliz Fim do Mundo para todos!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Observador

  Gosto muito de me sentar num canto e observar. Ver como as pessoas se comportam quando pensam que não estão sendo observadas. Essa é um hábito que venho adquirindo desde que me tornei escritor: é bom saber o verdadeiro comportamento de todos, para se basear nisso e criar um personagem fictício com traços bastante reais. É engraçado ver como as pessoas são diferentes, física e psicologicamente. Porque depois de começar a observar, a gente aprende a ver o interior das pessoas, a ler as entrelinhas. 
  É uma mania que aprendi com meu pai, ainda que por motivos diferentes. Certa vez fomos a um bar juntos, e ele me pediu para eu mudar de lugar, pois ele queria ficar sentado virado para a rua, para poder observar melhor. No momento, eu achei algo fantástico e cedi com alegria meu lugar para ele. Minha alma de poeta amador viu naquilo uma lição de vida: a de que sempre devemos observar as outras pessoas, que não é só a gente que sofre, que tem problemas. (Não vou nem citar isso, que é para não acabar com o encanto poético do texto, mas descobri posteriormente que o verdadeiro motivo de meu pai se portar como um observador, é que ele tem uma briga mal resolvida de muito tempo atrás e tem medo de que aqueles caras possam aparecer)
  Um fato: ser um Observador vicia. É como uma droga e, sem cuidado e moderação, você se torna uma daquelas pessoas antissociais que se sentam sozinhas nas festas, para tentar entender o porquê de certa pessoa se comportar de certa forma. É algo ruim neste ponto.
  Mas só neste ponto. Numa lista de prós e contras, este seria o único contra. É fato que, se tornando um observador, a pessoa observa mais intensamente o próximo, vê além dos próprios problemas.
  Se todas as pessoas fossem mais observadoras, o mundo definitivamente seria um lugar melhor. Se observássemos ao redor, veríamos a mulher malvestida que cata latinhas como uma pessoa, que também se machuca quando está amassando as latinhas de pés descalços e não simplesmente como um ser humano não realizado profissionalmente ou amorosamente. Se todos fôssemos mais observadores, iríamos perceber que estamos calçando botas bem resistentes e iríamos lá ajudá-la a amassar uma parte das latinhas.
  Se todos fôssemos observadores, perceberíamos quando um colega está se soltando numa festa qualquer, sendo ele mesmo depois de tanto tempo se segurando. Ainda que o colega se solte muito e se torne mais que óbvio que não segue a mesma opção sexual que a maioria. Perceberíamos o quanto este colega está infeliz depois de se tornar uma espécie de atração de circo para toda a festa.
  Pessoas não observadoras podem ser más às vezes.
  Se todas fossem observadoras, notariam a tristeza estampada no rosto de outras pessoas e tentariam alegrá-las, ainda que com um simples "Bom dia!".
  Como tudo na vida, ser Observador ou não é uma questão simplesmente de escolha. É só olhar pro outro com olhos diferentes dos habituais, que já estão cegos pelo estresse do dia a dia e não conseguem ver muito bem a infelicidade alheia.

 (...)

sábado, 17 de novembro de 2012

Sequenciada

A mentira voou
inconsciente,
inconsistente,
inconsequente.
Abrigou-se ali, naquela fresta entre a razão e a poesia.
E enlouqueceu.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Língua

  Era uma vez a Língua.
  Ela morava desde sempre numa boca que era habitadas por muitos dentes. Porém, apesar de serem velhos conhecidos seus, não tinha amizade com nenhum deles. Quem se importava? Era boa o suficiente sozinha! Era a única que conseguia alcançar o céu da boca. Sem contar que ela não gostava nem um pouco de nenhum dos dentes.
  Haviam dentes de todos os estilos. Uns estavam caindo. Outros estavam brancos e lisos, quase perfeitos. Outros podres com buracos que permitiam ver por dentro deles. Outros amarelados.
  A língua, desde que se lembrava, tinha sido a porta voz dos dentes. O Ciso, quando queria dizer algo ao Incisivo, gritava:
  -Língua! Venha cá!!! Preciso que você fale algo ao Incisivo para mim! É muito longe até lá!
 E era ela quem dava o recado. Por muito tempo, deu os recados com esmero e trabalho duro. Depois os dentes começaram a abusar; por ela estar sempre levando e trazendo recados, eles mandavam cada vez mais e mais. O Pré-Molar gritava:
  -Língua! Venha rápido, sua inútil! Fale lá com o Molar que ele não serve para nada!
  Ela ia, como que escrava. O Molar respondia:
  -Fale com o Pré-Molar que ele só tem "Pré" por ele pré-parar a comida que chega para mim!
  -Fale para ele, Língua, que eu estou mais à frente, então sou mais importante!
  -Pois diga para ele, Língua, que sou eu quem trituro a comida de verdade!
  -Então, Língua, diga para ele que sou eu quem recebe mais escovação então...
  Então a Língua reparara que eles estavam um ao lado do outro e podiam muito bem dizer um ao outro essas coisas. Se afastou, chateada.
  Estava começando a se cansar de ser garota de recados.
  Consequentemente, a Língua sabia tudo da vida de todos os dentes. Sabia, por exemplo que o Canino odiava o grupinho dos Molares Inferiores. Sabia da grande amizade entre o Pré-Molar Inferior com o Incisivo Superior e isso era complicado, pois um morava embaixo do outro e ainda assim, só se falavam por intermédio dá língua
  Como dito, todos os dentes começaram a abusar da pobre Língua.
  Então ela se rebelou e decidiu parar de ser "a pobre Língua". Começou então a espalhar de dente em dente algum podre do outro. Começou a fofocar como louca, na intenção de ver se eles se matavam ou se desafiavam para um duelo em que restasse só ela.
  -Sabe, Incisivo, o Pré-Molar disse que você é falso e que ele na verdade não gosta nem um pouco de você... - foi até o Pré-Molar e disse:
  -Pré-Molar! Você não imagina o que o Incisivo anda comentando de você! Disse que você é um amigo muito falso!
  Envenenou assim, a amizade de todos os amigos e ajudou a piorar o ódio entre os inimigos. Só não pensou em uma coisa: Estaria no meio de fogo cruzado.
  Depois que todos os dentes estavam com raiva de todos, ela se aquietou e sorriu, esperando. Logo começaram a gritar entre si. Que bom! Agora não passaria mais por garota de recados.
  Mas, durante a noite, quando tentou dormir, ela não conseguiu. Todos os dentes ainda estavam gritando e discutindo.
  -Pré-Molar!!! Você é um falso!!! Nunca mais converse comigo!
  -Não conversarei mesmo com você depois do que falou de mim!
  -Não disse nada sobre você!
  -Disse sim! A Língua me contou!
  -Pois a também Língua me contou que você me odeia!
  Com os que já eram inimigos não estava pior. O Canino enfrentava sozinho uma discussão com todos os Molares Inferiores, não era uma proeza muito grande, visto que eles não era lá muito inteligentes:
  -Seus inúteis! Simplesmente não prestam pra nada!
  -O que foi que você disse?
  -É, repita!
  -Que não prestam para absolutamente nada!
  -O quê?
  -É, repita!
  -Além de tudo são uns burros!
  -O quê?
  -É, repita!
  -Ah, vão catar as suas cáries, já que estão cheios delas!
  -O quê?
  -É, repita!
  -A Língua me disse tudo! Me disse que vocês estavam querendo brigar!!!
  -O quê?
  -É, repita! Espere! Ela disse isso a nós também!
  E assim, os olhares de todos os dentes foram dirigidos à Língua.
  -Foi você! - disseram - Você nos envenenou! Iremos te tirar daqui!
  A Língua sorriu e disse:
  -Vocês não conseguirão.
  -Você quer apostar?
  E os dentes morderam e trituraram a Língua.

E era uma vez a Língua.

(...)

sábado, 20 de outubro de 2012

A Cidade-Sobre-A-Bolha


O dia começou como qualquer outro para os habitantes da Cidade-Sobre-A-Bolha. Já um pouco muito abafado. Já um pouco muito barulhento. Tudo por causa da poluição excessiva, da urbanização excessiva. O asfalto, que rescendia o fedor da chuva ácida de ontem, seguia na maior parte das ruas e quase fazia os cidadessobreabolhenses se esquecerem da imensa instabilidade da bolha que os sustentava.
  A Bolha estava lá desde sempre e a cidade fora arduamente construída sobre ela. Granito e pedra sobre a fina película que revestia a Bolha; uma escolha não muito sábia, mas que, uma vez feita, não havia volta. Isso fez com que os cidadãos se organizassem de tal modo que a Bolha nunca estouraria. Ou eles pensavam que sim. Tudo acaba um dia. Enfim, o grande avanço da arquitetura e da engenharia civil permitiu que pilares e túneis fossem construídos no interior da Bolha. Foram desenvolvidos também os Remendos de Bolha, tecnologia que os permitia consertar um furo aqui e outro ali. 
  Foi quando a população se acostumou, se acomodou. Então, eram cada vez mais visíveis os Remendos de Bolha, aqui e ali, salpicados sem muito planejamento. Remendos de Bolha estouravam e remendavam por cima do Remendo. O asfalto chegou e os Remendos de Bolha passaram a ser Remendos de Asfalto.
  No dia atual, ninguém pensou muito no estado da Bolha, no risco que corriam ali em cima. Estavam mais preocupados com seus afazeres, seus compromissos. A Bolha não estourara até hoje, porque se preocupar, então...?
  Eis que chega o forasteiro nesta Cidade-Sobre-A-Bolha.
  Um Forasteiro desavisado em uma cidade onde não encontraria ninguém para explicar-lhe que existia um certo perigo, ainda que pequeno. Todos acordaram confiantes demais, sem preocupações com isso. Ele, alheio a tudo e a todos (e todos alheios a ele também) com o seu novo fone de ouvido, com sua animada música, encontra uma área onde a Bolha estava exposta. Empolgado, começa a seguir a canção e a pular, enquanto anda sobre o frágil e transparente chão. 
  E um centésimo de segundo depois, a bolha se rompe e o pobre turista cai dentro dela, aproveitando a última grande queda da sua vida e já colocando em perigo toda a população.
  O ar da Bolha está vazando incontrolavelmente. Logo o GRB - Grupo de Remendo de Bolha é acionado. Logo estão ali, dando o melhor de si. O buraco aberto pelo Turista logo se torna um rasgo, uma grande rachadura, que estava além da capacidade que o GRB tinha de consertar. 
  A notícia é dada e logo chegam repórteres e pessoas que, saídas do seu transe do dia a dia de trabalhadores-máquina, percebem o real perigo e se aglomeram ali próximo, quebrando uma das principais regras da cidade: não concentrar muito peso em um só lugar. Pessoas, carros, animais... Toda a população já estava ali.
  A Bolha não aguenta tanto peso sobre ela e enfim, depois de tanto tempo, estoura definitivamente.
  Os cidadessobreabolhenses vêem o chão sumir dos seus pés como um passe de mágica a assim, toda a Cidade-Sobre-A-Bolha rui, apesar de tanto avanço tecnológico.

(...)

domingo, 7 de outubro de 2012

Amores de Praça



Quando a vi, foi admiração.
Eu andava calmamente pela praça. Caminhava satisfeito com a vida. Mas, quando a vi, fiquei insatisfeito no mesmo momento. Insatisfeito por ainda não conhecer aquela pessoa.
Sentada num banco da praça, como que brincando com a sorte. Pelo seu olhar, dava visivelmente para notar que ela não se importava muito com o que os outros diziam, falavam, pensavam. Ela viva a seu prazer, do jeito que queria. Mas, claro, eu não a conhecia, então não deveria nem estar pensando nisso.
Mas foi admiração. 
Ela olhava para tudo e para nada, para um ponto e para todo o universo. Não se importava como outrem porque sorria ternamente com os lábios vermelhos. Brincava com a sorte porque tanto fazia se estava ali naquele banco ou no Palácio de Versalhes, estaria feliz, estaria no seu mundo.
De repente, tirou um livro da bolsa. O meu preferido. Agora era vontade de conhecê-la melhor. 
Aproximei-me, meio que inseguro. Os cabelos estavam presos em um coque desajeitado, e por isso mesmo, mais apaixonante. Uma maquiagem sutil e delicada chamava atenção nos seus olhos.
Delineador verde era o que usava. (Uau, como eu sabia o nome daquilo?).
Aproximei-me meio inconstante, um passo por vez, fazendo hora para aquele momento durar muito. Ela estava entretida em seu livro – meu livro, nosso livro – e não notou enquanto eu estava me aproximando.
Nosso livro? Ok, eu precisava parar com aquilo. Eu nem conhecia a garota e já estava apaixonado? Ela usava um vestido simples, digno do calor que fazia. Flores estampavam cada respiração.
Sapatilhas verdes como o delineador estavam visíveis, mesmo com a posição um pouco estranha dos pés. Mas por mais estranha que a posição parecesse, ainda assim era linda.
E fui me aproximando. Não sei bem o que eu planejava fazer, se era dizer meu nome e me tornar amigo e, quem sabe, algo mais do que amigo dela, se era me sentar ao seu lado e ler junto, ou recitar alguma frase do livro. Mas, mesmo assim me aproximei.
Ela, com seus olhos um pouco fechados, desviou o olhar das páginas amareladas, como que para absorver uma das frases que acabara de ler. E me viu...
Infelizmente, ela não me viu com os olhos que eu a vi. Ela me viu com os olhos de menina de classe média que fora, desde sempre, advertida pelos pais para não dar atenção para qualquer estranho, pois ele podia muito bem ser um ladrão ou um vagabundo.
Então ela, lenta, porém tensamente pegou suas coisas e saiu de perto do banco.
Ela fugiu de mim.
E eu... Eu me sentei no banco, triste, porque nunca mais conheceria alguém assim.

(...)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Epifânico


  A tal epifania. Ela vem sorrateiramente e se esgueira para dentro da sua imaginação... Hoje estou num de meus dias epifânicos. Só que esses dias, no meu caso são quase um problema.
  Ter uma dessas não é tão comum para a maior parte das pessoas... nem ter uma assim tão forte.
A epifania, definida como "aparição ou manifestação divina", ou simplesmente "revelação", nada mais é do que uma sensação legal, gente-fina, que te dá a cura para o bloqueio, que às vezes te dá até a solução para alguns problemas. É algo lindo, ótimo. Exatamente aquela lanterninha que aparece sobre a cabeça dos personagens de desenho animado quando estes têm uma ideia. Quase como se, depois de muita procura, a pessoa encontrasse a última peça do quebra-cabeças. 
  Contudo, como tudo na vida, se for demais é sobra. E no meu caso, as epifanias vêm gritantes a ponto de incomodar. E em momentos inadequados.
  De repente, vejo surgir na minha massa cinzenta muitas ideias para começar histórias, escrever textos, músicas, tocá-las, pintar quadros, fazer desenhos. E, comigo, geralmente é em algum momento muito inoportuno, como quando eu estou voltando à pé para casa sob o sol castigador de meio dia, ou quando eu não tenho como fazer nada do que estou com vontade. Se pego caneta e papel, logo vejo surgir um desenho bem ali. (pensando assim, toda a minha infância deve ter sido um momento de inspiração, visto a quantidade de desenhos que minha avó tem guardada)
  É um pouco desesperador, saber que todas aquelas boas ideias estão indo pelo ralo e que eu realmente não posso fazer nada além de tentar andar depressa e terminar o que quer que eu esteja fazendo para escrever/desenhar/pintar/fazer-seja-lá-o-que-for e tentar permanecer no meu estado epifânico.
  Acredite, é algo a que se pode dar corda, assim como brinquedos. Se a epifania vier e gritar e você der atenção a ela, ela te levará longe. É daí que surge toda a inspiração. E é por isso que nenhum artista jamais irá saber explicar certamente de onde a ideia para a sua obra-prima surgiu. Muita gente acha que o presente de Deus para a humanidade é o arco-íris, ou o número de ouro, mas, para mim, estes momentos epifânicos são o real presente. Posso apostar (até por que ninguém nunca vai conseguir provar se estou certo ou errado) que muitas das maiores invenções que fazem ou fizeram parte do nosso dia a dia foram feitas assim, em estado epifânico.
Mais uma epifania...!
  Quanto às minhas epifanias, vou continuar tentando apressar os compromissos para dar corda logo a elas... Talvez assim consiga encher o Tatu com mais e mais textos.
  Quanto à sua epifania, não duvide dela. Pode ser que não seja como a minha, mas, sim, ela vem. E não é necessariamente relacionada à arte. Pode ser que seja a solução dos seus problemas pessoais batendo à sua porta. Só resta abrir. Em momentos assim, procure um amigo. Ou fique sozinho. Ou entre no Tatu e olhe os textos novos que vou postar com meus momentos epifânicos que ainda estão por vir.

(...)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Índia Poti e o Defunto Português

  Marieta. Tenho certeza que ela tinha um sobrenome, mas ela havia ganhado o carinhoso e um tanto preconceituoso apelido de "Índia Poti" em bela homenagem aos seus antepassados; ameríndios legítimos. Desde que recebera tão incontestável alcunha, mais ninguém conhecia seu sobrenome. Era simplesmente Marieta Poti.
  Era poetiza. Com nove livros publicados, já fazia seu doutorado. sua tese de mestrado tinha sido escrita à mão e digitada posteriormente por um funcionário contratado com o lucro dos próprios livro - que, a propósito, também foram escritos à mão.
  Não se incomodava nem um pouco em ter escrito tudo à mão, afinal, foi escolha dela. Também não se incomodava em caminhar longínquas distâncias e ainda conservava velhos hábitos singulares; comia as mesmas sementes que aprendera a catar logo quando criança, - apesar de que o mundo mudou muito desde que era criança e não era mais possível simplesmente catar as sementes, portanto comprava-as - sorria muito pouco ou quase nada e insistia em refutar quase completamente a tecnologia, mesmo quando se utilizou dela para voar até Portugal, onde esta história se passa. 
  A mente de Poti voava longe, mesmo que sua cara fechada e seu corpinho atarracado dissessem exatamente o contrário. Lembrou-se, com um pouco de saudade, de sua queria e falecida mãe, uma velhinha caquética e simpática que morrera há pouco tempo. Porém ela sabia que toda vida tinha uma hora de acabar, só tínhamos que nos acostumar com o fato. Depois de algumas lágrimas e poemas, conseguiu finalmente superar. Lembrou-se do simples e incomum velório de sua mãe; flores formavam um belo e ao mesmo tempo asqueroso mar no caixão. Isso era tradicional. O diferencial estava na celebração resgatando as origens indígenas e a grande alegria de todos, sabendo que a velha tinha passado para uma melhor.
  Fato é que quando sua turma da excursão fez o primeiro percurso, passaram por uma igreja em que coincidentemente acontecia um velório... Um velório português.
  Como escritora, Poti tinha que acumular experiências. Como sempre encarara a morte como uma parte normal e previsível da vida, ela achou que seria absolutamente normal se ela se aprximasse e observasse o defunto português de perto, e foi o que fez.
  A família não teve qualquer reação quando ela se aproximou, pois estavam sofrendo demais para isso. Era alguém muito querido em vida... Então ela não viu problema em se aproximar um pouco mais e aspirar o cheiro das curiosas flores azuis e roxas estrangeiras ou se abaixar para analisar a estrutura da mesa sobre a qual o caixão estava. Depois fez as devidas anotações na folha amassada que carregava no bolso.
  Foi quando um dos parentes percebeu o que ela estava fazendo e gritou para que parasse com aquilo. Sobressaltada, Poti se levantou bruscamente, batendo a cabeça na mesa e derrubando com ela o caixão e o defunto.
  Foi em cana.
  Mas sem problema...
  Tudo daria
  Um ótimo poema.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Brincando com Adjetivos

  O que, diabos, elas PENSAM que estão fazendo sentadas nas minhas cadeiras? Vetustas.
  Estou em casa com as três vizinhas idosas que vieram me acolher na minha mudança. Hospitaleiras.
  Estava sozinha e elas chegam assim daquele jeito, pensando que eram de casa. Equivocadas.
  "Vamos ficar aqui só um tempinho, é tradição dar as boas vindas!". Mentirosas.
  E estão aí sentadas no meu sofá.
  Folgadas.

  O tempo passa e depois passa mais um pouco de tempo. Vagaroso.
  Elas haviam se sentado nas únicas cadeiras vazias da casa. Oportunistas.

  Uma delas questionou "Tudo bem com você?". Intrometida.
  Respondi que sim e ela aquiesceu. Indiferente.
  Então ela se levantou vagarosamente. Inepta.
  Se levantou e questionou onde era o banheiro, que ela estava super apertada para cagar. Desnecessária.
  As outras riram desta piada. Pueris.
  Eu indiquei o caminho. ela se foi na sua lentidão. Quando voltou, olhou as cortinas e comentou que na casa dela as cortinas estavam limpas. Desagradável.
  Eu sorri falsamente e ela ajeitou a dentadura na boca com dificuldade. Nojenta.
  A mulher riu, bobamente, não sei em que achou graça. Néscia.
  Daquela mulher eu decidi que não gostava. Correta.

  A segunda idosa disse que eu não me importasse, pois a amiga era assim. Tagarela.
  E continuou a falar. Sem-senso.
  Comentou sobre a vida de todos do prédio. Fofoqueira.
  Depois ela pediu que eu servisse algo para ela comer, pois estava com fome.Gorda.
  Como eu não tinha nada, pois havia me mudado há pouquíssimo tempo, disse que não havia nada.Cortesa.
  Ela disse que era um absurdo e que me ajudaria na comida quando eu precisasse. Esnobe.
  decidi que não gostava daquela também. Correta.

  A terceira não disse nada.Calada.
  Só olhou para as outras com desprezo, desejando que elas fossem melhores pessoas. Utopista.
  Depois deu um sorriso e se desculpou, se retirando. Fina.
  E puxou as amigas para fora do apartamento, se desculpando novamente. Redundante.
  Saíram então e me deixaram sozinha. Decidi então que eu gostava da terceira mulher.
  Correta.

(...)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

As Ciganas Prometidas

  É a última oportunidade que eu tenho de andar pela rua. São as pacatas ruas da pequena vila de Prometida às quais me refiro. Logo eu iria para a capital para nunca mais voltar. As vielas eram sim pacatas e aconchegantes durante o dia. porém, à noite, elas se metamorfoseavam em ruinhas geladas habitadas pela escória ou até por gente riquíssima, porém carente. Ruelas que se tornavam palco das mulheres da noite, as ciganas de olhos sedutores e corpos de cigana. Elas são famosas nas redondezas, a sensação de Prometida; o ponto turístico de qualquer desocupado. 
  Dizem que elas faziam qualquer um delirar. Por motivos ocultos que não direi hoje.
  Mas eu me ausentarei de Prometida hoje para sempre, por motivos que não direi. Fato é que veria uma das ciganas, por presente do meu pai. presente esse que ganhei por motivos que não direi hoje. Mas foram prometidas a mim, ou era o que eu gostava de pensar, visto que o natural de Prometida era chamado de prometido.
 Chega a noite. Eu me arrumo com zelo. Estou para conhecer uma das ciganas e isso me deixa muito ansioso. Meu pai, que separou-se da minha mãe há muito muito muito tempo, por motivos que não direi hoje, já era frequentador assíduo do lugarejo noturno. Ele me apressa; irá comigo mostrar-me as ciganas.Eu as imaginava como deusas marinhas com cabelos voláteis. Suas roupas... Imaginava de um jeito que não vou descrever aqui hoje por motivos que não direi.
  Meu pai e eu saímos. Estou satisfeito. Passamos pelo açougue e Seu Flirlismindo já está fechando o estabelecimento. Segue conosco para a Viela do Beco, o point das Ciganas Sensuais. Meu pai insiste que elas não são ciganas e as descreve de um jeito tão horroroso que nem direi hoje. Ele tenta me por para baixo mas meus sonhos são fortes.
  Chegamos então à Viela do Beco e eu não vejo cigana alguma. Escuto, porém vozes e risos femininos. Meu pai me manda esperar um pouco e sai de cena.
   Então um sussurro no meu ouvido me manda ficar quieto e minha visão fica escura por motivos que só não direi pelo fato de eu também não saber. Suponho que tenha sido uma mão tapando meu olho, mas fiquei confuso.
  Sou conduzido para algum lugar fechado pois já não ouço as vozes. Deveria ser para onde estão as ciganas. Minha visão volta então ao normal e vejo uma mulher.
  Mas não era uma cigana. Muito pelo contrário. Era uma gorda toda molenga. Se imaginei uma deusa, ela era um demônio, uma assombração. Talvez uma bela assombração, mas ainda assim uma assombração.
  Perguntei onde estava a cigana e ela começou a se despir dizendo que poderia sim ser minha cigana.
  Então eu corri. Por motivos que vocês devem imaginar, mas não direi hoje. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Golfinho do Rock


  Eu estava ali, um pouco receoso, um pouco ansioso e muito curioso. 
  Já tinha escutado, como todos da escola, conversas aterrorizantes sobre ele. Alguns falavam que ele tinha parte com muitas seitas, outros diziam que ele era alguém que fazia vários rituais para conseguir o que quer. Ninguém sabia ao certo dizer que tipo de ritual era esse. Alguns, mais obscuros, mas que provavelmente aumentavam muito a história, diziam que ele era satanista. 
  Como bom cristão que era, eu no mínimo eu tinha receio em conversar com ele.  
  Fato é que ele usava roupas diferentes do que a maioria de nós estava acostumada; camisas pretas com medonhas estampas, calças rasgadas ao extremo e coturnos pesados nos pés. Quando não eram os coturnos, eram tênis All-star bastante surrados. Isso compunha o visual diário do estranho novato. Mas, apesar de suas roupas parecerem passar a mensagem: “Se afaste, ou vou te matar agora mesmo!”, seu rosto simpático e amigável dizia exatamente o contrário. Suas feições eram as de um adolescente normal, como nós, que batalhava para conseguir o que quer, não eram feições de um sociopatazinho de merda – desses que se sentem na obrigação de ignorar completamente os outros seres humanos – ou de alguém que consegue tudo facilmente com seus rituais satânicos. Suas feições – nariz anguloso, torto como um pequeno bico de pássaro, olhos observadores e boca de lábios finos que viviam num sorriso meio estranho mesmo quando ele estava sério – na verdade lembravam as de um bom golfinho.
  Eu adorava golfinhos. Desde sempre. Na minha infância, quando eu via as reportagens sobre a inteligente comunicação dessa espécie e desenhos em que apareciam golfinhos, principalmente aquele chamado Free Willy – abrasileirado para (hehehe) friuili - eu ficava extremamente empolgado.
  E sempre quis ter um golfinho amigo, apesar de que acho que estaria contente de ter um amigo golfinho apenas. Por morar em Minas Gerais, meu contato com o próprio mar já era extremamente reduzido, imagine só com golfinhos selvagens.
  Imagine então a minha felicidade, minha realização de um sonho de infância, ao ver uma pessoa que realmente parecia-se com um golfinho!
  Restava fazer com que ele virar meu amigo.
  Eu sempre tive aquela vontade de ser o simpático anfitrião que era o primeiro a falar com os novatos e apresentava-os para o resto da turma. Isso funcionou muito bem com todas as pessoas até agora. Mas nenhuma delas tinha esse visual cuja descrição é exatamente a que eu usei acima: “Se afaste, ou vou te matar agora mesmo!”. Nenhum deles tinha essas conversas relacionadas a seitas ou satanismo.
  Coincidentemente, neste dia eu estava usando um colar desses de praia que eu havia ganhado. Esse colar tinha três golfinhos entrelaçados, quase como o símbolo de “Retornável”. Decidi que não podia deixar esta oportunidade passar. Logo decidi também que eu tinha que abordar o roqueiro de um jeito diferente do “Oi, meu nome é Fulaninho, e o seu?”. Fiquei olhando para ele durante a aula, tentando bolar um jeito de como me apresentar. Ele ocasionalmente me olhava, mas depois de algum tempo, ele deve ter começado a achar algo realmente estranho no ar, pois quando meus olhos de ser humano e os olhos de golfinho dele se encontraram, ele estreitou-os para mim, como quem estivesse atirando para matar. Realmente não consegui entender. Tampouco eu entendi como olhos tão interessantes como os de um golfinho conseguiam se estreitar com aquela expressão. Freei a mim mesmo, lembrando-me que ele era um ser humano como eu, só lembrava, bem de longe, um golfinho.
  Lá por uma hora, mais uma vez ao pensar no modo como faria amizade com o carinha, eu olhei para o colar. E então me lembrei novamente que ele era um golfinho e que ele se sentiria lisonjeado se eu lhe dissesse isso.
  Respirei fundo, fiz o relaxamento muscular que aprendi na aula de canto e fui andando em direção a ele.
  Ele ainda não tinha me visto. Eu cutuquei o ombro e ele olhou para trás. “Oi!” eu disse. Ele só me olhou com uma expressiva cara de golfinho que devia significar que era para eu desembuchar. “Meu nome é Fulaninho, e o seu?” ele mais uma vez não me respondeu. Droga! Eu sabia que não ia dar certo esse tipo de abordagem amigável. Em um segundo fiz o que estava planejando. Exclamei: “Ei, sabia que você se parece muito com um golfinho?” ele parou de encarar e fez-me uma cara indagadora; que eu queria insinuar com aquilo? Eu resolvi concertar, pois provavelmente ele havia levado para o pessoal. “Mas não se preocupe!” disse eu “Eu adoro golfinhos! Olhe só para esse colar meu! São golfinhos...!”
  Ao ser ignorado a gente sente certo pesar. É chato ser ignorado, principalmente quando não se sabe a razão.
  Hoje eu tenho um amigo golfinho. E descobri o motivo pelo qual eu fui ignorado; ele me disse que naquele momento, pensou que eu estava cantando ele. Disse que não tinha nenhum interesse por pessoas do mesmo sexo, então saiu. E eu nem havia pensado nessa possibilidade durante todo esse tempo.
  Hoje eu tenho um amigo golfinho. E roqueiro. E ateu – apenas ateu, não satanista, como diziam os ridículos rumores. E alguém muito legal, uma pessoa que me aconselha, me ajuda e me pede conselhos. Um amigo. Roqueiro. Mas principalmente golfinho.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Os Conflitos de um Herói

  Não seu se alguém reparou isso, mas todo herói – fictício ou real – tem que passar por um momento de grande conflito interior para então se tornar um herói propriamente dito. Conflitos ao ver todos os planos darem errado, ferindo tudo o que ele mais preza. 

  Este é o momento no qual ele se questiona se fez as escolhas certas; o momento em que ele olha para trás e decide não cometer os mesmos erros.
  As pessoas comuns, que não são heróis nem nada parecido – a senhorinha do clube de costura, o atendente de uma loja de moda terminada em “apóstrofo + s” qualquer, o batalhador funcionário - agora desempregado - de uma empresa, que foi demitido em função de alguma revolução tecnológica e não ter destreza em operar as novas máquinas – também passam por este tipo de conflito. E não são poucas vezes. Infelizmente o ser humano é suscetível a erros. E se são erros, são atos dos quais vamos nos arrepender no futuro. É quando chegamos ao conflito interno abordado.
  É um ciclo. O mundo gira, os tempos mudam, as crianças crescem e logo aparece uma tia chata para comentar o grande avanço no amadurecimento do indivíduo, a tecnologia evolui. A padaria sempre vai vender pão, mesmo que chegue ao posto de supermercado. A natureza vai sempre insistir em dominar, mesmo que tentemos erradicar sua existência explorando mais e mais. E, seguindo este raciocínio, veremos que o ser humano, filho da teimosia, sempre vai tomar alguma cacetada qualquer para aprender.
  A inteligência, é analisada à partir disso; os mais inteligentes são os que aprendem com os erros dos outros. Já os idiotas são os que batem de frente com o mesmo assunto durante, muito tempo, os que levam chibatadas morais a todo instante e nunca aprendem. Se você pertencer a esta última categoria, em primeiro lugar, não se sinta ofendido. É um pensamento antigo (deu certo até hoje, se serve de consolo). Tente ser mais flexível, mais aberto a novas experiências.
  Retomando a minha idéia inicial sobre os conflitos internos de um herói, o que quero dizer não é para amenizar, ou extinguir o seu conflito. Muito pelo contrário, sou a favor de quem sente tudo muito intensamente. Reafirmando minha idéia do parágrafo anterior, idiota não é quem tem o conflito. Idiota é quem tem muitos conflitos sobre um mesmo assunto. Quero mostrar que por mais tempo que seu conflito dure, mesmo se for muito intenso, é benéfico.
  Usarei como exemplo um relacionamento que um amigo meu teve há um tempo. A menina era sua xará, o que tornava tudo um pouco ridículo.
  Foi daqueles relacionamentos nos quais com uma semana tendo uma relação apenas com beijinhos e conversas, o idiota do menino apaixonado pede em namoro a pequena, crente que vai dar certo e durar. Durante o namoro, ele se entrega. Apresenta a namorada à mãe e quer algo sério. Começa a fazer para ela uma grande surpresa; uma carta imensa que pretendia dar a ela acompanhada de um buquê das mais cheirosas flores e de uma pelúcia, para comemorar o aniversário de um mês. Quer um namoro sério. Sério ao ponto de isso começar a assustar a garota. Então, antes do aniversário de um mês, a menina começa a tratá-lo de um modo diferente, tentando se afastar. Mas não tem problema; é uma forte TPM ou algum problema familiar que ela prefere não comentar... ele a ama e continua tratando-a com respeito e carinho.
  Porém, pouco tempo depois, a convivência torna-se uma vilã, o desgaste moral se manifesta e ele decide seguir o conselho de um amigo e terminar a relação. E termina.
  Numa tarde chuvosa, depois de o romântico garoto ficar triste e fortemente abalado, decide usar a churrasqueira da casa. É quando ele se vê numa cena digna de um horrível final de filme de comédia romântica, jogando tudo (a carta, o urso e o amor que sentia) dentro da churrasqueira, despejando álcool por cima de tudo e atear fogo cantando “Set Fire to the Rain”, da Adele. Quando percebeu o quão ridículo parecia, entrou nesse conflito interno. Quando saiu, três semanas depois, tinha decidido estar por cima em qualquer outro relacionamento que tivesse. Isso não significa que seria seco, ou ignorante, significa que não se deixaria enganar da próxima vez.
  Para finalizar, gostaria de dar um conselho a você, leitor: Não reprima jamais o que está sentindo e não tente parar o seu conflito interno, a menos que seja o segundo, ou terceiro, ou quarto sobre o mesmo assunto.
  Esse conflito é como um casulo do qual vai sair uma elegante borboleta. Saia como essa borboleta. Ou como um verdadeiro herói.