A despeito de toda rotina, que esmaga em conveniências; além de todos os
carros que correm desembestados e dos pobres cães de rua, assustadiços e
desavisados, está ela. Seguindo uma rua desconhecida.
A magia daquela rua não é apenas o fato de ser desconhecida. A magia
daquele momento está em ser momento. As pessoas já correm e trasladam dum ponto
a outro na cidade. Contudo a manhã nasce, lenta e sem pressa. Um raio
transversal de luz atravessa a fria rua; encontrou alguma brecha entre os
tijolos e o concreto. A luz atravessa a moça.
Estalar de dedos. Latido de cão. Esfregar de olhos. Bocejo.
Ela anda em paz. Está satisfeita, está plena. E olha para os lados sem
compreender muito bem a ansiedade e insatisfação geral.
No fim – não veem? – desta rua há uma praça. Há de ser. Uma praça. Nova
ou conhecida, há de ser. Esta rua tem jeito de rua que leva a praças, tortuosa
como é. Incomoda-a ruas retas! Dão possibilidade de caminhar rápido de mais e
os detalhes se passavam sem que visse direito. Essa rua, com sua leve curva,
com certeza esconde, no seu fim uma praça bem aconchegante. Na praça há de ter
um banco e gente, fazendo algo qualquer. E a magia está naquele raio de luz.
Se a rua não tiver fim, não haverá frustração; a simples perspectiva de
uma praça a satisfaz. Na verdade, o som dos seus passos basta. Algum passarinho
há de ter.
As pessoas estalam os dedos latem esfregam os olhos bocejam. E correm e
correm, perseguindo sonhos que não lhes caía muito bem no ombro.
Não é que ela não tinha sonhos. É que os sonhos dela eram um bocado mais
simples. A perspectiva fresca e doce de uma praça era suficiente para que
pousasse um pé na frente do outro e seguisse seu caminho.
(...)