De cara com a morte, rio e penso na ironia de tudo aquilo; o tal Narciso, quem me emprestou o nome, também morreu. Ficou de cara com a morte, no caso do conto mitológico, a cara da morte sento a própria cara refletida na lagoa. Morreu também por gostar demais de si mesmo. Como eu.
Parecia
improvável que eu seguisse a trilha do nome que me apelidaram. Ele deve ter
pensado nisso quando me disse o meu nome. Com certeza. Seu Noé sabia de tudo.
Pensei que ele tivesse me apelidado disso para tornar o meu problema óbvio para
mim mesmo e eu mesmo tentar consertá-lo, não para lançar-me essa maldição.
Mas agora
já estou aqui. A morte, transfigurada nessa onda gigante já está aqui. O que
fazer? Rio-me novamente, um riso frouxo, descontrolado, louco, histérico.
E o que
ficava da minha existência? Nada.
Das três
coisas que, segundo a cultura popular todo homem deve fazer, não fiz nada. Não
tive filhos, não escrevi um livro, e o que escrevi ninguém jamais lerá, visto
que meus únicos escritos estão no velho notebook, que, se já não pifou, logo
será engolido pelo mar.
Rememoro
os momentos que vivi. Os amigos e, posteriormente, paixões que tive. Todos
pareciam tão eternos...
Retiro o
último cigarro do bolso e mesmo sob essa tempestade, tento acendê-lo, quase inconscientemente.
Depois tenho a mesma crise de gargalhadas histéricas.
Minha
mente divaga e eu penso que devo estar parecendo um velho pirata, exceto,
talvez, pela parte que o rum na mão do pirata é cachaça na minha e o barco
pirata é barquinho a vela vagabundo alugado no porto tosco com um velho que
realmente parecia um pirata.
Delírio ou
verdade, vejo uma luz. Um holofote apontado diretamente para minha cara. Que
ótimo – penso, sarcasticamente – a salvação.
Fato é que
eu não quero ser salvo. Não vivi nada que valesse a pena ser lembrado.
Felizmente, a onda já está grande o suficiente para ser perigosa a aproximação
do helicóptero.
-Que se
quebre sobre mim, que acabe logo com minha infame existência, ó onda. – digo.
Ergo um
brinde, um último ato descompensado.
-VENHA! –
grito. A onda dá a impressão de estar parada, escrotizando ainda mais a minha
existência, logo no final dela – NÃO ME OUVIU? VENHA DE UMA VEZ! – berro.
E ela vem.
Com força. Ávida. Cruel.
Descendo
pro meu túmulo molhado e solitário, não abro mão de pensar: “Acho que viver
valeu. De alguma forma, acho que valeu a pena”.
E fecho meus olhos para nunca mais.
E fecho meus olhos para nunca mais.
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