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domingo, 7 de outubro de 2012

Amores de Praça



Quando a vi, foi admiração.
Eu andava calmamente pela praça. Caminhava satisfeito com a vida. Mas, quando a vi, fiquei insatisfeito no mesmo momento. Insatisfeito por ainda não conhecer aquela pessoa.
Sentada num banco da praça, como que brincando com a sorte. Pelo seu olhar, dava visivelmente para notar que ela não se importava muito com o que os outros diziam, falavam, pensavam. Ela viva a seu prazer, do jeito que queria. Mas, claro, eu não a conhecia, então não deveria nem estar pensando nisso.
Mas foi admiração. 
Ela olhava para tudo e para nada, para um ponto e para todo o universo. Não se importava como outrem porque sorria ternamente com os lábios vermelhos. Brincava com a sorte porque tanto fazia se estava ali naquele banco ou no Palácio de Versalhes, estaria feliz, estaria no seu mundo.
De repente, tirou um livro da bolsa. O meu preferido. Agora era vontade de conhecê-la melhor. 
Aproximei-me, meio que inseguro. Os cabelos estavam presos em um coque desajeitado, e por isso mesmo, mais apaixonante. Uma maquiagem sutil e delicada chamava atenção nos seus olhos.
Delineador verde era o que usava. (Uau, como eu sabia o nome daquilo?).
Aproximei-me meio inconstante, um passo por vez, fazendo hora para aquele momento durar muito. Ela estava entretida em seu livro – meu livro, nosso livro – e não notou enquanto eu estava me aproximando.
Nosso livro? Ok, eu precisava parar com aquilo. Eu nem conhecia a garota e já estava apaixonado? Ela usava um vestido simples, digno do calor que fazia. Flores estampavam cada respiração.
Sapatilhas verdes como o delineador estavam visíveis, mesmo com a posição um pouco estranha dos pés. Mas por mais estranha que a posição parecesse, ainda assim era linda.
E fui me aproximando. Não sei bem o que eu planejava fazer, se era dizer meu nome e me tornar amigo e, quem sabe, algo mais do que amigo dela, se era me sentar ao seu lado e ler junto, ou recitar alguma frase do livro. Mas, mesmo assim me aproximei.
Ela, com seus olhos um pouco fechados, desviou o olhar das páginas amareladas, como que para absorver uma das frases que acabara de ler. E me viu...
Infelizmente, ela não me viu com os olhos que eu a vi. Ela me viu com os olhos de menina de classe média que fora, desde sempre, advertida pelos pais para não dar atenção para qualquer estranho, pois ele podia muito bem ser um ladrão ou um vagabundo.
Então ela, lenta, porém tensamente pegou suas coisas e saiu de perto do banco.
Ela fugiu de mim.
E eu... Eu me sentei no banco, triste, porque nunca mais conheceria alguém assim.

(...)

3 comentários:

  1. Não, Gabriel Filpi não está apaixonado. Foi só uma crônica que ele escreveu enquanto estava na Praça da Matriz, em Montes Claros.

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  2. que lindo!!!!!! Senti o vento nos cabelos, pensei que ia ter retorno no amor e mesmo entristecido senti que amor fluiu no ar.

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  3. Ual mt bem gah, vc tem talento!

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