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segunda-feira, 18 de março de 2013

Óculos

  Ana é bela, mas acho que não é a essa conclusão que ela chega toda vez que contempla tristemente o próprio reflexo no espelho do guarda-roupas. Contempla, desanima-se e tira-me do rosto. Coloca-me de lado e pega a câmera fotográfica, esquecendo-se de mim por um tempo, até me usar novamente para postar todas as novas fotos online.
  Ela nunca foi extrovertida com os amigos; é quieta, uma boa pessoa - ao menos pessoalmente. As coisas que a vejo fazer quando senta-se ao computador não são coisas que uma boa pessoa faria. É como se ela usasse uma máscara que é retirada toda vez que Ana deixa de ser pessoa física para se tornar pessoa virtual.
  Hoje Ana saiu sem mim. - Isso pode ser perigoso para alguém com tantos - e tão sérios - problemas de  vista. Agora me lembro de uma conversa no chat com um tal de Patrick. Ele me pareceu bem galanteador, acho que a ela também.
  Ouço a chave do apartamento girar e Ana entra chorando e se joga na cama, esmurrando o pobre travesseiro. Não sei o que aconteceu lá fora,mas gostei de vê-la escrever - mesmo com todas as inexplicáveis abreviações - para o tal de Patrick: "Vc n presta. Nunca mais me procure d novo."


(...)

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