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terça-feira, 21 de agosto de 2012

As Ciganas Prometidas

  É a última oportunidade que eu tenho de andar pela rua. São as pacatas ruas da pequena vila de Prometida às quais me refiro. Logo eu iria para a capital para nunca mais voltar. As vielas eram sim pacatas e aconchegantes durante o dia. porém, à noite, elas se metamorfoseavam em ruinhas geladas habitadas pela escória ou até por gente riquíssima, porém carente. Ruelas que se tornavam palco das mulheres da noite, as ciganas de olhos sedutores e corpos de cigana. Elas são famosas nas redondezas, a sensação de Prometida; o ponto turístico de qualquer desocupado. 
  Dizem que elas faziam qualquer um delirar. Por motivos ocultos que não direi hoje.
  Mas eu me ausentarei de Prometida hoje para sempre, por motivos que não direi. Fato é que veria uma das ciganas, por presente do meu pai. presente esse que ganhei por motivos que não direi hoje. Mas foram prometidas a mim, ou era o que eu gostava de pensar, visto que o natural de Prometida era chamado de prometido.
 Chega a noite. Eu me arrumo com zelo. Estou para conhecer uma das ciganas e isso me deixa muito ansioso. Meu pai, que separou-se da minha mãe há muito muito muito tempo, por motivos que não direi hoje, já era frequentador assíduo do lugarejo noturno. Ele me apressa; irá comigo mostrar-me as ciganas.Eu as imaginava como deusas marinhas com cabelos voláteis. Suas roupas... Imaginava de um jeito que não vou descrever aqui hoje por motivos que não direi.
  Meu pai e eu saímos. Estou satisfeito. Passamos pelo açougue e Seu Flirlismindo já está fechando o estabelecimento. Segue conosco para a Viela do Beco, o point das Ciganas Sensuais. Meu pai insiste que elas não são ciganas e as descreve de um jeito tão horroroso que nem direi hoje. Ele tenta me por para baixo mas meus sonhos são fortes.
  Chegamos então à Viela do Beco e eu não vejo cigana alguma. Escuto, porém vozes e risos femininos. Meu pai me manda esperar um pouco e sai de cena.
   Então um sussurro no meu ouvido me manda ficar quieto e minha visão fica escura por motivos que só não direi pelo fato de eu também não saber. Suponho que tenha sido uma mão tapando meu olho, mas fiquei confuso.
  Sou conduzido para algum lugar fechado pois já não ouço as vozes. Deveria ser para onde estão as ciganas. Minha visão volta então ao normal e vejo uma mulher.
  Mas não era uma cigana. Muito pelo contrário. Era uma gorda toda molenga. Se imaginei uma deusa, ela era um demônio, uma assombração. Talvez uma bela assombração, mas ainda assim uma assombração.
  Perguntei onde estava a cigana e ela começou a se despir dizendo que poderia sim ser minha cigana.
  Então eu corri. Por motivos que vocês devem imaginar, mas não direi hoje. 

Um comentário:

  1. UAHAHAH!!! Eu quero visitar essa Viela do Beco! Muito legal, tatu

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